Diz que se apaixonou quando me viu sambar, que eu sorria e tirava o cabelo dos olhos, sem perder o compasso, rodando e sorrindo. Dizia para eu pintar as unhas de rebu, para usar aquele vestido florido e sorrir mostrando minhas covinhas, disse que meu sorriso era provocante quando eu queria que fosse. Soltava meu cabelo para me beijar no estacionamento, me puxava pela nunca, me apertava contra o corpo. Dançava comigo, era mais que um amigo, queria ser alguém que viesse na minha cabeça quando eu deitasse cansada do samba. Mas eu estava muito preocupada com amores antigos, com as horas e o clima, eu estava muito estressada com o trânsito dessa cidade amarela e chata. Aos poucos fui perdendo a graça pra você. O cheiro do meu shampoo no seu travesseiro já não te fazia mais fechar os olhos, meu toque não arrepiava e meu sorriso era o mesmo, sempre. E foi afastando e eu não percebendo, e perdendo, e ficando só. Fiquei só por não saber, não ver, não dar uma chance. Nota de hoje: Prestar mais atenção em barbas mal feitas que fazem um carinho diferente no rosto da gente, em mãos que procuram mãos, em olhos que percorrem curiosos o que se deseja, prestar atenção em coisas mínimas que atentam para o tal amor.
“Pior de tudo é perceber, que você vinha dando sinais e eu não vi”
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