Já caí muitas vezes nesse seu joguinho barato de ciúmes. É falso. Se antes você não sabia mentir, agora muito menos. Seu semblante muda e ao mesmo tempo em que você está achando jogar frases de efeito sobre mim, ele esta entregando você a cada palavra dita. Eu vou tirar forças de onde for para apagar você, bater seu portão, seus vizinhos vão ouvir, todos da rua vão saber. Eu vou, sem nem sequer olhar pelo retrovisor. Tudo isso é porque quando o amor chega, devemos abraça-lo e dizer no seu ouvido: “Bem vindo, reine sobre mim”, devemos agarra-lo com ambas as mãos. E nós? Nós nunca fomos ligados nem por um dedo.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Me, Capitú
Eu falei, bem de mansinho, no pé do seu ouvido. “Não se apaixone”. O que você fez? Ouviu? Não! Em trajetória reta isso se foi pelo outro ouvido, sua mente nem raciocinou. Eu sou como passarinho maroto que não se pode pegar, sou areia que não se pode segurar por muito tempo, se esvai, some sorrateiramente pelo vão dos dedos. Não haverá verão que apague isso, não haverá carnaval que te alegre agora. Sou anjo, sou demônio. Meu bem, eu te avisei que é amargo me querer. E agora? Você se apaixonou. Renda-se, esse amor é bandido. Porque tem dias que eu acordo com olhos de "cigana, oblíqua e dissimulada".
Bem viva em mim
É nessas noites que eu quase consigo tocar a realidade, é nesses dias que eu quase consigo fugir do real. Eu me confundo com os momentos, eu esqueço das situações que vivemos, você fica brabo, eu fico sem graça. É como se boa parte de tudo tivesse sido arrancada de mim, não porque eu quis, mas porque deixei levar, fiquei frágil, virei alvo fácil. Mas quando diz respeito a nós, tudo é diferente. Sabemos que o lugar que a nossa química é percebida pelos estranhos, são as livrarias, que entramos e perdemos boa parte do nosso tempo rindo a toa e desejando milhares de livros. “Se você casar comigo, na nossa casa vai ter uma biblioteca! Casa comigo?”, você diz sem pensar, sem olhar para mim, “sim!”. É como se eu tivesse perguntado, “vamos comprar esse?”, e você, “sim!”. É aquele sim que faz covinhas no meu sorriso de alegria, é o seu melhor sim. Porque rir o dia todo, imaginar bibliotecas, casar-se no mesmo minuto e ir ao cinema mais engraçado de todos, é realidade. São esses momentos que grudam em mim, são as minhas piadas que até eu mesma rio, são as suas caretas que você não faz ideia de como são hilárias. Não é sonho, isso não é um sonho. Mas se for, não acorde, não me acorde.
Sunshine
As vezes sinto saudade de quem não devo, sinto falta de momentos que talvez nunca foram meus, sinto pena do que meus olhos veem hoje, e não consigo evitar comparações. Por um longo tempo pensei que essa saudade era um tipo de problema mal resolvido, mas não, muito pelo contrário, é esse puta problemão realmente decidido, posto ponto final. Sabe que esse tipo de saudade não é ruim, é boa sim, porque faz me ver o quão sou melhor, sou maior. Me faz ter vontade de ter grandes e novos amores, de sair pelo mundo vivendo, dançando, ousando, me entregando sem medo algum. Porque todo esse tempo me deixou mais linda, mais nova, mais mulher. Era inverno, mas dentro de mim havia um verão que me fez sair mais nua, mais bronzeada, mais provocante, viva.
Ímãs
Não temos nada em comum.
Você é do norte, eu sou do sul.
Eu sou "verão, chegue logo", você é "inverno, fique para sempre".
Você é "vamos tirar milhões de fotos", eu sou a fuga nos flashs.
Eu sou "uhul, amo mpb", você é Led Zeppelin.
Você é praia e sol, eu sou chalé na montanha.
Eu sou guerra de neve, você é "olha amor, fiz um anjinho".
Você é "vai devagar", eu sou "acelera isso, meu"!
Eu sou martini, você é "cowboy, por favor".
Você é "chega logo, aniversário", eu sou "esse é o dia mais idiota dos 365".
"Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem"
Minha mania tão nossa
Eu odeio, e você sabe que eu detesto as bitucas de cigarro que você joga no jardim. Mas, confesso, sinto falta dos seus beijos nicotinosos. Sabe, eu queria muito te ver da sacada, abrindo os portões e chegando sorridente. Sem desculpas, elas não são necessárias, eu só queria o portão se abrindo novamente. Queria as bitucas no jardim, queria as toalhas molhadas jogadas na cama, queria o “eu te amo linda” escrito no espelho depois do banho. Eu queria você nos pequenos detalhes novamente. Eu queria que ficasse.
Ne me quitte pas
Eu só queria entender tantas páginas em branco, as janelas abertas para o mundo todo, os livros empoeirados, um baú de lembranças caído no esquecimento. O que acontece dentro de mim que quase me arranca os momentos, os beijos, as lágrimas quentes que escorriam pelo rosto molhado de suor. A cama tão minha, tão sua, os cobertores que envolviam nosso amor, as paredes testemunhas dos dias que as horas se arrastavam e nós ficávamos ali, dormindo, rindo, sonhando. São coisas que só nós dois sabemos, só nós sentimos, porque mesmo que o tempo passe, esse quarto sempre será o nosso lugar. Eu não devia, eu não queria, mas lembrar é inevitável e esquecer é impossível. Não me deixe.
Desencontrou
Me pediu perdão, perdoei, já estava perdoado mesmo. Surpresa foi quando vi jogado na garagem uma caixa enorme cheia de cartas, fotos e todas as miudezas que a gente guardou por tantos anos, me devolveu tudo, me obrigou a aceitar. Tudo bem, não tinha remetente, eu queria tanto poder tirar a tampa e encontrar qualquer outra coisa, quem sabe aquele cãozinho que você tinha me prometido? Ou então que fosse engano, caixa errada na garagem errada. Mas o que denunciou mesmo foi a letra, a sua letra meio tortinha escrito meu nome na tampa, podia ser em outro idioma, mandarim talvez, a sua letra, conheço sempre. Acho que você daria qualquer coisa pra ver a minha cara na hora que percebi do que se tratava, era você jogando na minha garagem todo o nosso passado, presente confuso e futuro impossível. Porque o seu nome e a palavra futuro eram como ímãs que se repeliam, fácil. Deixei a caixa na lavanderia, comprei um cãozinho, quem sabe a próxima caixa que chegar ele ache antes de mim e coma todas aquelas lembranças esquecidas.
Três segundos, um gato azul e ela
Agora eu quero saber como vai ser daqui a alguns anos. Fico curiosa sempre que me pego pensando, planejando. Sorrio com acontecimentos bobos que futuramente irão me fazer tão feliz. Quero todos os dias acordar sorrindo, acordar antes de você, ficar olhando você dormir, economizar água tomando banho junto contigo, quero ver sua barba crescer e ter um filho com seus olhos. Quero sempre receber seus elogios que me engrandecem tanto, voltar dirigindo pra casa quando você estiver falando muitas besteiras depois de alguma festa que fomos à casa dos nossos futuros amigos, ou quem sabe, de algum velho amigo que fará parte da nossa vida sempre. Eu quero sempre poder estar dividindo minhas alegrias ao meio contigo, a minha rotina, as minhas crises de enxaqueca, as minhas horas na frente do espelho. Quero dividir as minhas manias, meus desejos, meus sonhos de mulher, todos com você. Porque você é eu e vice-versa. Uma parte de mim, metade de mim.
(Parte 2)
Atordoado
Fiz um sonho pra você, agora durma meu amor, dei fim naquele despertador chato que insistia em não desligar quando você apertava e apertava o botão. Eu vou embora, não se preocupe, quando acordar irá entender o porquê, o motivo de eu sair com aquele guarda chuva meio quebrado que você tinha vergonha. Não se preocupe, tranquei a porta da frente, vou jogar a chave fora, já que não volto mais. O porta retrato ficou, você sempre ria daquele menininho intruso lá no fundo da foto, espero que não se desfaça dos nossos dois sorrisos incansáveis em Belo Horizonte. Então vou, coração na mão, a milhão, sapatos embarrados, rosto molhado de chuva e lágrimas, seus arranhões nas costas. Volto para o meu mundo, meus móveis, meus livros, meus relógios, volto para o meu mundo, de onde eu nunca devia ter saído.
Identidade
Às vezes meu corpo se arrepia de tanta raiva, a visão embaça, os dentes cerram. Percebo que sou tão frágil quanto um pássaro com uma asa quebrada, ferido, interrompido. As suas frases ficaram ecoando dentro da minha cabeça, seu momento de lucidez não compensou as tantas palavras pesadas que você despejou sobre mim. Fui embora, bati a porta, queria ficar, queria ir, fui. Tomei um banho gelado, mas meu corpo ainda fervia de tanta raiva, de tanto amor, e não havia nada que você falasse ou fizesse, nada me tirava aquela sensação de que eu não pertencia àquele lugar e que você chovia sobre mim com seus argumentos sem fundamentos. Hoje sou imune a você, minhas veias se livraram daquele fluxo que ia ao compasso do seu coração, o meu corpo não está mais junto ao seu e os nossos cheiros não se misturam mais, não mais. Metade de mim grita aclamando a minha saída da sua teia, os outros gritos desesperados de saudades suas tranquei em uma gaveta. Seu nome esta associado a confusão, o seu jeito confuso, a confusão que trouxe pra minha vida e agora, a minha cabeça confusa que jamais vai livrar-se de você. O seu jeito de rir, de não se despedir quando está puto comigo, quando você desliga o telefone na minha cara ou quanto os pneus do seu carro marcam a minha garagem, não há como tirar você de mim, acho que você é eu.
Três segundos, um gato azul e ela
Mesmo com o chuveiro ligado eu sabia quem era só pelas batidas, batia como se tivesse alguém a dormir e que não pudesse ser acordado. Ficou a me fazer companhia madrugada a fora, e o sol nasceu, e nós dois lá até o meu cabelo secar, duas bocas que não paravam fechadas, de falar e de sorrir. Quatro mãos que tentavam disfarçar a vontade de viajar pelas curvas alheias. Uma tevê ligada que estava mais para telespectadora e uma janela aberta com cortinas a voar, voar. Falar de mim, falar de você, assim, singularmente, eu queria mesmo era soltar um alto e sonoro plural, um nós, era o que eu realmente queria. A porta fechou, trezentos e sessenta graus na chave e ficou só um cheiro no ar, e aquele vazio, aquela sensação que me esmagava por dentro, aquele olhar baixo e para o nada, não aceitastes o meu coração? Sim ou não?
(Parte 1)
Logo
Depois que você bateu a porta, tudo mudou. Senti o ar entrar com peso nos meus pulmões. Senti meu rosto endurecer e não rir mais, não sorrir jamé. O que eu via pela janela mudou, os móveis, as luzes, até as panelas sentem sua falta, falta de você assoviando fazendo macarrão. Quando dirijo sem rumo pela cidade não me sinto mais em fuga, não é mais aventura quando com você gritando para onde eu deveria virar. Eu abro meus olhos pela manhã, despertador toca, não tenho mais o seu corpo como obstáculo para desligá-lo, agora é fácil, agora é difícil. Acho que fui muito longe, mais que além, bem pra lá dos limites. Cadê meu amor? Eu sei, eu sei que você tem medo, estou contando com isso, estou certa disso para ouvir aquela batida na porta que só você tem, no ritmo dos primeiros acordes da música do Ramones.
So quiet
Eu pensei que ao te encontrar, iria abraçar todas as respostas para as minhas dúvidas que me incomodavam às 4 da manhã. Deixaria de fumar e comprar exageradamente sandálias, iria apreciar coisas que pessoas que encontram o alguém certo fazem. Na verdade não larguei meus vícios, mas abandonei-me em mim no instante em que você parou e eu continuei. O que se fez agora foi o meu banheiro virar uma caixa de recordações. Memórias despedaçadas que se perde a meia luz, banho após banho. O seu toque seco na minha pele molhada abrindo o box para te deixar abraçar, grudando sua pólo no meu corpo que escorria, de amor, de intenso amor. Agora não consigo encontrar o instante em que quebramos, não encontro o atalho para te parar, te interromper e te estacar, bem aqui.
Sinais
É nesse mundo nu que eu te procurei por tanto tempo. Perdi dias em bocas que mal me causavam nostalgia na semana seguinte. Perdi manhãs acordando com o semblante atordoado sentindo falta de você, alguém que eu não conhecia, ainda. Enquanto a cidade dormia no seu mais profundo sono, nem sonhos eu tinha, não era possível que alguém que transbordasse amor não conseguisse encontrar um lugar para dividi-lo. “Fica com a metade aí, pode pegar pra sempre, tá?”.
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