Mesmo com o chuveiro ligado eu sabia quem era só pelas batidas, batia como se tivesse alguém a dormir e que não pudesse ser acordado. Ficou a me fazer companhia madrugada a fora, e o sol nasceu, e nós dois lá até o meu cabelo secar, duas bocas que não paravam fechadas, de falar e de sorrir. Quatro mãos que tentavam disfarçar a vontade de viajar pelas curvas alheias. Uma tevê ligada que estava mais para telespectadora e uma janela aberta com cortinas a voar, voar. Falar de mim, falar de você, assim, singularmente, eu queria mesmo era soltar um alto e sonoro plural, um nós, era o que eu realmente queria. A porta fechou, trezentos e sessenta graus na chave e ficou só um cheiro no ar, e aquele vazio, aquela sensação que me esmagava por dentro, aquele olhar baixo e para o nada, não aceitastes o meu coração? Sim ou não?
(Parte 1)
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